quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Dream and Hope

PAPÁ

Recostado na sua cadeira, uma cadeira larga e quebrada
E polvilhada com cinzas,
O papá passa os canais, toma outro
Cálice de Seagrams, simples, e pergunta
O que fazer comigo, um rapaz novo e verde
Que nem considera a
Falta de sentido do mundo, desde
Que as coisas se me tornaram fáceis.
Fixo os olhos na sua cara, um olhar
Que lhe afasta a testa;
Estou certo que ele não tem consciência dos seus
Negros olhos de água, estes que
Balançam em diferentes direcções,
E dos seus lentos e indesejados espasmos
Que demoram a desaparecer.
Oiço, aceno abertamente até tocar na sua pálida,
Camisola bege, gritando,
Gritando nos seus ouvidos, pendurados
Com lóbulos pesados; mas ele está a contar
A sua piada, e então pergunto-lhe por que
Parece tão infeliz, ao que me responde….
Mas eu não quero mais a porcaria da resposta, porque
Passou todo o tempo, e por baixo da
Minha cadeira eu tiro o espelho que guardei;
Eu rio-me, rio-me à gargalhada, o sangue escorre
Da sua cara até à minha, e cresce
Um pequeno lugar no meu cérebro, algo
Que deverá ser extirpado, como se fosse um
Caroço de melancia, com os
Dois dedos.
O papá toma outro cálice, simples,
Repara na pequena mancha de âmbar
Nos seus calções, igual à que eu tenho nos meus, e
Faz-me cheirar do seu cheiro, e este vem
Apenas de mim; ele passa os canais, recita um poema antigo
Que escreveu antes de a sua mãe falecer,
Levanta-se, grita, e pede
Um abraço, assim que eu encolho, com os meus
Braços mal conseguindo dar a volta
ao seu grosso e oleoso pescoço, e às suas costas largas; porque
Eu vejo a minha cara emoldurada na
Armação preta dos óculos do papá,
E descubro que ele também se ri.
Barack Obama - (publicado no jornal "Feast").
.................Bob Dylan - The Times They Are A-Changin

.
http://casadospoetas.blogs.sapo.pt/31913.html
http://bibliotecariodebabel.com/tag/barack-obama/

1 comentário:

Luís Costa disse...

Estimado João,

Por acaso já conhecia este poema. Um poema, a meu ver,
muito bem conseguido.
Como se pode ver neste poema, o Barack não só é um político cheio de carisma,
mas também é dono de uma forte veia poética. .
E isto agrada-me pessoalmente e penso que agradará a todos aqueles que amam a literatura e
A arte.
E digo:
Se o Barack conseguir ser, no rumo político que vai dar à América,
tão bom como neste poema, então, homens de todo o mundo
dai graças a Deus!
Pois o mundo está salvo.

Já reparou que tenho um novo blogue?
Se quiser passar por lá, as janelas e as portas da minha casa encontram-se abertas,
e na mesa há das mais divinas iguarias.

L.C.