quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal III

NATAL À BEIRA-RIO


É o braço do abeto a bater na vidraça?

E o ponteiro pequeno a caminho da meta!

Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,

A trazer-me da água a infância ressurrecta.

Da casa onde nasci via-se perto o rio.

Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!

E o Menino nascia a bordo de um navio

Que ficava, no cais, à noite iluminado...

Ó noite de Natal, que travo a maresia!

Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.

E quanto mais na terra a terra me envolvia

E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.

Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me

À beira desse cais onde Jesus nascia...

Serei dos que afinal, errando em terra firme,

Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

David Mourão-Ferreira - Obra Poética 1948-1988
..............
John Lennon - Happy Christmas (War is Over)

1 comentário:

Luís Costa disse...

Não há duas sem três e neste caso
a meu ver ( sendo todos belos ),
O terceiro poema é o MELHOR:

“ Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...”


NATAL

Poesia!
voz,
palavra primeira
que reconduz à fonte ,
A fonte visceral,
natalidade,
origem do homem:

a criança,
ainda pura
como uma pedra,
ou um rio
que corre porque corre.

L.C.