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Escrevo como no princípio
atrás do inóspito silêncio da faísca
curvado para dentro
boca fechada a que se confinam os cicios
apocalíptica e múrmur
em seus desvarios de garrote
e mastiga-se a intrínseca mudez que corrói
esta triste e acirrada madrugada
.
o silêncio circunflexo apaga os nomes
sorvendo a luz das glicínias
até que o poeta é desmascarado
pelo extremo e assombroso vocabulário – sagrado
e profano como se as palavras florissem
seiva e sangue
e rubras filigranas na beleza física de Auschwitz.
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Escrevo como no princípio visceral
da explosão vulcânica dos cílios
e escrevo como se a única contrição superlativa
fosse a sílaba muda da água
porque o coração do fogo engole-nos vivos
por infinitas extensões epifânicas – aí cega a boca
na entrega híbrida do altivo dialecto
.
agora o primórdio do canto
surge elíptico no busto das cimitarras da crisopeia
na paixão dos corpos suportados nas obreias
enquanto a parábola espera que ele se renove
e grafe a morte como libérrima cascata incandescente
sob o cristalino silêncio silvestre que engoliu Elias.
João Rasteiro
....................Nessum Dorma - Paul Potts.................
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