Fulmina-me, atravessa o meu corpo com as tuas lâminas
o amor não és tu, nunca o serás no mundo das rupturas!
Não te compadeças de mim, escuta o meu desafio justo
que vai subindo irado no reverso corpóreo das bocas,
olha-me nos olhos húmidos dos cães raivosos de frechas.
Ao pé do teu divino reflexo a tua covarde indiferença,
olha estas incisões esquivas como monstros em chamas
entre as cidades invisíveis e a morte discerne da sílaba.
Já contra a carne para embeber as tuas dúvidas, a loucura,
a mentira, a injúria, vozes num espaço opaco, cuja traição
só tu serias capaz de moldar como tributo em todos nós
- digo que todo o teu santo nome é repudiado sob as algas.
Se as tuas generosas dádivas se fincassem como ofício puro
a tua memória seria amaldiçoada esconjurada entre o pó
como um eco, pesadelo longínquo dos homens primitivos.
Ergue-se por fim a nuvem a melancolia intangível do verbo
a hegemonia transitória da sombra que te oculta dos mortos.
E agora é o aperto dos dedos que abatidos se acorrentam.
A pedra está dobrada sobre si mesma, transbordante de luz
como se desabrochasse nos abismos profusos da cegueira.
Quero emergir sob a glória da minha guerra. Mas a pedra
está despida por dentro, o coração – então morrerei solitário.
João Rasteiro
2 comentários:
algo complexo, mas gostei bastante. pesnso(e não tenho grandes conhecimentos literários)que estamos perante um grande poema.
bruno
sem dúvida, joão. bom dia. um beijo.
Enviar um comentário