quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Dia de São Valentim

Pintura de Marcel Duchamp

As Madrugadas Esculpidas


este era o coração esculpido da chama
compartilhada no lume reaberto da espiral
profanada no gesto obsceno da lâmina
sobre a linha transparente das águas,

no útero da madrugada os espasmos
da finitude das veias que não cessam
como se de pedra negra o amor inicial.
♠♠
a construção é um espaço descoberto
o movimento lapidado das formas
difusas cicatrizes onde o amor flutua
mastigando as águas como unguento,

as crias dormem com as mãos acesas
fogueiras aprendendo a rota do voo
que reúne em si o vazio e a plenitude.
♠♠♠

no esplendor absoluto do silêncio
dobrado lume sobre lágrimas
amadurecidas veias sobre o nome
Inês que traça o seu próprio curso,

eis o crepitar acelerado do assombro
fincado ao centro o êmbolo puro
que quis decifrar o destino da sílaba.
♠♠♠♠
na noite profunda dormem fundidos
corpos uníssonos na unidade mítica
coroação descascada em uivos densos
atravessados reflexos dos ventos alísios,

o corpo sôfrego do amor sobre a terra
fechada a paisagem obstinada acocorada
na miragem das raízes a boca de Pedro.

♠♠♠♠♠

para acender outra vez aqueles olhos
de lava as águas fecundas do Mondego
sublimam a distância fronteira do golpe
cru o espectro entre as paixões da carne,

a memória álgida no excesso das artérias
filiais as bocas no odre do sangue antigo
com uma lâmina felina e subtil de vigor.
João Rasteiro

http://tw.youtube.com/watch?v=30AZF8ZKhnY
http://tw.youtube.com/watch?v=WwqPOkcXrYQ&feature=related

1 comentário:

Anónimo disse...

(...)na noite profunda dormem fundidos (...)
F..d's?