sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

"A prostituição da palavra" II

Vejam bem / Que não há /Só gaivotas / Em terra /Quando um homem / Se põe /(A surfar!!!)...
(...)
E se houver / Uma praça / De gente / Madura / Ninguém vem / (ao poema / que não seja mar!!!)...
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actualExpresso, 16/2/2008

«Doze Naus» é um grande livro, pela construção e pela absorção de níveis da expressão e do mundo próprio de Manuel Alegre
Como membro do júri que deu o prémio a Doze Naus, confesso que tive uma outra escolha à partida. Mas abri o livro do poeta em causa e li: «Ditoso seja aquele que alcançou/ poder viver na doce companhia/ das mansas ovelhinhas que criou!» O «kitsch» das «mansas ovelhinhas» afligiu-me; mas quando vi o poeta dizer: «Hércules, uma camisa/ de chamas o consumiu», fiquei ainda mais desanimado com tão banal «camisa de chamas». Abri um outro livro deste autor e logo deparei com um «por meio destes hórridos perigos», em que a redundância dos perigos é acentuada pelo hórrido superlativo. O problema ficou resolvido naturalmente, porque o prémio só é dado a autores vivos, e esta alternativa não pertence a este grupo. Eliminado Camões, portanto ficou Manuel Alegre.
Talvez não fosse necessária esta justificação se não tivesse aparecido uma opinião, cuja legitimidade não contesto (tal como o mau gosto, a crítica é livre em Democracia), adversa ao critério desta escolha. Nada mais fácil do que abrir um livro - qualquer que ele seja, de qualquer autor, como se viu pelo exemplo de Camões (e nem preciso de acrescentar a celebérrima cacofonia do «alma minha») - para encontrar momentos a que chamaria lineares, ou simplesmente tonais, que não funcionariam se a obra se limitasse a eles, mas que se integram num todo em que se desenha uma perspectiva que os absorve, e em que esse registo tonal é subvertido ou contrariado por rupturas e sismos melódicos ou temáticos que fazem do livro um complexo de registos que vão dessa tonalidade tópica até à invenção específica de cada linguagem poética. E é isso, precisamente, que faz destas Doze Naus um grande livro, pela construção e pela absorção de níveis da expressão e do mundo próprio de Manuel Alegre que aqui encontram um perfeito jogo de equilíbrio.
Há muitos anos, ainda antes do 25 de Abril, trabalhei com Luísa Neto Jorge no argumento do filme Brandos Costumes, de Alberto Seixas Santos, e nunca esqueci um pormenor que o Alberto pediu para incluir sobre o monólogo do pai moribundo, quando falava do regicídio (agora tão evocado): foi a frase histórica dita pelo Buíça, de acordo com Rocha Martins, antes do ataque à carruagem da família real: «A eles!» A impressão que tenho, quando vejo alguma da actual crítica literária a autores portugueses, é a de críticos que, todas as semanas, depois de gritar «A eles!», se precipitam sobre os livros para desfechar as suas armas de pólvora seca, mas que não deixam de fazer algum ruído. Como se vê por este exemplo, são bem fracos os argumentos que tão fraca gente tem para brandir. E, ao contrário do que sucedeu com a caleche de D. Carlos, a poesia portuguesa continua a seguir o seu caminho.
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Em homenagem sincera ao nosso Zeca Afonso, os links abaixo, com 5 lindíssimas músicas – ai como elas me suavizam a alma e o demónio das palavras.

18 comentários:

Anónimo disse...

A vaselina da judiaria só lhe fica mal.

Anónimo disse...

Para deixar bem claro - as minhas opiniões (que logicamente valem o que valem, ou seja, quase nada) referem-se "apenas" à parte poético literária. NUNCA em qualquer momento se reportam ao(s) autor(es)enquanto pessoa(s). Esclarecidos...
Quanto às opiniões/críticas, da minha parte tenho todo o gosto em as ter em consideração.
Um abraço poético.

Anónimo disse...

Meu caro Anónimo,
Estou a ficar farto de anónimo-covardias.
Como já reparou, neste Blog, o essencial é a democracia, logo a pluralidade de opiniões.
Assim, ou dá a cara, ou se não tiver coragem por alguma razão plausível, contacte-me pelo E-mail, que sob compromisso de honra, que não farei qualquer comentário no BLOG relativo a essa mensagem. Mas tem de se decidir, até porque, como reparou (e contrariamente a grande número de Blogs, eu não filtro comentários, eles são publicados na hora.
Agra questões que precisam de ser (precisam? – para alguns são obvias):
1º - Reafirmo que não estou (nem tal seria admissível) a falar do homem(ns).
2º - Estes dois comentários!?!, aproveitando a crítica do António Guerreiro, têm a ver com este livro (“DOZE NAUS” ) e prémio específico (D. Dinis da Fundação casa de Mateus) e eventualmente aos júris, mas apenas, enquanto júris – ENTENDIDOS!
3º - Até porque Manuel Alegre, enquanto político e homem já conseguiu o seu lugar na história contemporânea portuguesa – inclusive, se acho que poeticamente, não deveria estar a receber prémios, como se fossem Óscares de carreira, a nível ficcional outro galo canta(rá).
4º - Relativo ao júri Nuno Júdice, estamos conversados, mas, relativamente ao poeta Nuno Júdice ( e já agora ao ficcionista) também outro galo canta(rá) – ou ainda não reparou que o Blog dele é um dos meus locais “sagrados” no Blog No Centro do Arco.
5º - Em conclusão, para o bem e para o mal, dou (sempre) a cara. E por isso talvez seja bom fazer o mesmo. E já agora, tal como aceito o conselho (sinceramente, sem qualquer ironia, até porque o que mais me revolta e abate é aperceber-me de auto-repetição) de escrever/ler/estudar/praticar mais, talvez seja bom para “si” ler mais, sobretudo alguma coisas/poéticas que se estão a fazer neste país!
Mas, se entender continuar a ser uma visita “obscura”, não se preocupe, apareça na mesma, que ainda assim é bem-vindo.
Abraços poéticos, e se puder, neste fim-de-semana leia poesia, até porque neste sentido dou razão ao Nuno Júdice: "a poesia portuguesa continua a seguir o seu caminho".
Seu,
João Rasteiro

Anónimo disse...

ri,cu,di
di ano,ano,di,lo,ló
ló,ri,
ridi
locu
locu
culo
culo
cú,cú
ri,cú,
anonicú
lonimo
có,
có. ri, ri,ri

Anónimo disse...

quanto a wilmar silva, melhor seria conhecer a sua poesia, que é uma das mais interessantes e inovadoras.

Anónimo disse...

inovadoras
inovador
inovado
inovad
inova
inova
inovinov?
ino
ino
ino?
in
in
in
wiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimar
ar,ar,ar
ar,in,ar,in,ar,in

Anónimo disse...

Tu és melhor -- muito melhor!--
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.
Mário Cesariny

Pois, pois.A esta hora ele e o Paceco deve ser cá uma risota na metafísica. Cambada de poetas posmoder

Anónimo disse...

Tu és melhor -- muito melhor!--
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.
Mário Cesariny

Pois, pois.A esta hora ele e o Pacheco ...deve ser cá uma risota na metafísica. Cambada de poetas posmoder

Anónimo disse...

o anónimo tem a síndrome do frustrado que daria o o para ser poeta

Anónimo disse...

Cá está a sua veia erótico-porno.O Cú, um belo cú.

Anónimo disse...

É por demais sabido que a atribuição de prémios - sejam literários ou de outra qualquer espécie volátil - não têm nada a ver com os concorrentes.

Os concorrentes, perdedores ou ganhadores de tais loas, servem indirectamente e apenas para justificar a atribuição aos jurados de esses tais alguns dinheiros d'oiro que logo serão por estes transformados em acções do Banco Conspurcado de Portugal.

Trata-se portanto de um negócio em que os correntes ficam com os cêntimos sobrantes do negócio e com os afamados livros de novo a repousar nas gavetas da sua imaginação...

Concluindo: os prémios literários, desde há milénios, são apenas o espelho de quem escolhe o que é trigo e o que é joio... nada mais do que isso.

Os correntes apenas são as bombardas da festa ou, pertençamente, os seus violinos...

Vivam os Prédios Literários!

Um abraço

Anónimo disse...

Um abraço Rui de Velazquez, seja bem aparecido por este centro.
Um abraço poético.

Anónimo disse...

Prédios, casinhas ou caleches poéticas?

Anónimo disse...

A caleche, a caleche, a caleche.

Anónimo disse...

na verdade, as parelhas de animais felizes que vão zurrando, só porque os deixam participar nas palmas e nas luzes, sempre a uma distância infinita, resultantes da atribuição destes prémios, só me leva a gostar cada vez mais de Bocage:
"Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu quando os cotejo!
Igual causa nos fez perdendo o Tejo
Arrostar co sacrílego gigante:
(...)
Modelo meu tu és... Mas, ó tristeza!...
Se te imito nos transes da ventura,
Não te imito nos dons da natureza.

H.B.F.

Anónimo disse...

A ÁGUA

Meus senhores eu sou a água
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.

Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da rasca
tira o cheiro a bacalhau da lasca
que bebe o homem que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão

Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho

Meus senhores aqui está a água
que rega as rosas e os manjericos
que lava o bidé, lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber às fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche e
lava a boca depois de um broche.

A.M.B.
a caleche poética

Anónimo disse...

OLÉ!

Anónimo disse...

BIBLIOTECÁRIO DE BABEL - José Mário Silva, 07/01/2008:
"O anúncio da criação do prémio literário LeYa, no valor de 100 mil euros, para um romance inédito escrito em português, a atribuir durante a Feira de Frankfurt (com a ideia de “exportar” os “nossos autores”). O regulamento será conhecido a 15 de Fevereiro.
P.S. - Estou muito curioso de saber que figuras serão convidadas para o júri…"
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www.correiomanha.pt/noticia
Manuel Alegre (presidente), Nuno Júdice e Pepetela são algumas das personalidades que integram o júri do Prémio Leya, instituído no princípio do ano pela holding editorial de Miguel Pais do Amaral – a Leya – e que tem o valor mais elevado em concursos congéneres. Cem mil euros distinguirão o melhor romance inédito em língua portuguesa, cujo vencedor será anunciado durante a próxima Feira de Frankfurt, isto é, de 15 a 19 de Outubro.
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Empresa/holding profissional de jurados literários?

"Actore non probante, reus absolvitur"
e
"Actus non a nomine sed ab effectu judicatur"