quarta-feira, 5 de março de 2008

ANNA AKHMATOVA

(Горенко, 23 de Junho de 1889 - 5 Março 1966)
COMO PEDRA BRANCA
Como pedra branca no fundo do poço
dentro de mim está uma memória.
Nem quero afastá-la, nem posso:
é sofrimento e é prazer e glória.

Julgo que quem olhar-me bem de perto
dentro em meus olhos logo pode vê-la.
E ficará mais triste e pensativo
que alguém que escute uma anedota obscena.

Eu sei que os deuses metamorfoseavam
os homens em coisas sem tirar-lhes alma.
Para que o espante da tristeza dure sempre,
em coisa da memória te mudei.
Tradução de Jorge de Sena
A MULHER DE LOT
E o homem justo seguiu o enviado de Deus,
alto e brilhante, pelas negras montanhas.
Mas a angústia falava bem alto à sua mulher:
Ainda não é tarde demais; ainda dá tempo de olhar
as rubras torres da tua Sodoma natal,
a praça onde cantavas, o pátio onde fiavas,
as janelas vazias da casa elevada
onde destes filhos ao homem amado".
Ela olhou e - paralisada pela dor mortal -,
seus olhos nada mais puderam ver.
E converte-se o corpo em transparente sal
e os ágeis pés no chão enraizaram-se.
Quem há de chorar por essa mulher?
Não é insignificante demais para que a lamentem?
E, no entanto, meu coração nunca esquecerá
quem deu a própria vida por um único olhar.
Tradução de Lauro Machado Coelho
Anna Akhmatova
http://anaprs.blogs.sapo.pt/arquivo/400439.html
http://64.233.183.104/search?q=cache:d_Gxfve-pMkJ:br.geocities.com/jerusalem_13/anaakhmatova.html+poemas+de+anna+akhmatova,+recanto+das+poesias&hl=pt-PT&ct=clnk&cd=1&gl=pt

1 comentário:

Nuno Dempster disse...

Em relação ao inquérito abaixo:

Enquanto julgadoras de arte (e não só), nunca acreditei em maiorias. Seguramente não será escolhido aquele que soube ultrapassar a influência poética de Pessoa e é, a seu lado, um dos nossos maiores poetas desde os cancioneiros.