..............................................Paula Rego
Se a boca virar faca cortará os lábios
.
Há poucos anjos que chorem
muitos poucos lobos que uivem cegos como a flecha.
Acenderam-se as sombras. É o Inverno fervendo o poema
ao desconcerto geográfico das pétalas do gelo.
E enquanto a terra molda um cordeiro
para alimentar as ervas
a língua com suas cabeças prodigiosas - pulcras e cruéis
despertam os fantasmas brancos - os inocentes animais da melancolia
os que sucumbem iludidos pelo cheiro
das sílabas incendiárias
harmoniosas como as virgens flores da Primavera.
...........................- Húmidas, dobradas na nuca.
*
Eis um tempo absolutamente bárbaro
porque os embriagados demónios ou deuses das palavras
trabalham ferozmente treinando os prisioneiros como arquipélagos
pois os figos maduros apodrecem nos gonzos
que suportam a escrita dos labirintos. Saúdo-te detrás do sol e da lua
onde apenas refulgem as horríveis cores das metástases
linguísticas – as raízes carnívoras dos lugares
que se espalham aos corpos nativos de luz – sob aquela frágil
e descomunal oração de Pavese: virá a morte e terá os teus olhos.
E virá a sílaba alucinada e serás aniquilado
sob a aurora. As novas idades com o fogo dentro da boca dos lírios.
...........................- Adolescentes, perversas no beijo.
*
Onde guardar a benévola catacrese do espigão
o coração surgido como um ímpeto agachado na poética
do jogo acerbo e fundo
na boca que vira faca e corta os lábios no silêncio nu
ó insana quimioterapia de bem querer
colocar todos os sonhos no intrínseco sexo de oiro – a vida e a morte
em seu rizoma sagrado – num poema inapreensível e único.
João Rasteiro
...................................Paco de Lucia
2 comentários:
O texto é bonito e forte, os violões harmoniosos sem dúvidas.
Abraço
Belíssimo, leio e releio e encontro , o novo , e o »renovado»
Um prazer , estas intensas leituras
Fico por aqui com Paco de Lúcia !
Abraço
____________ JRMArto
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