quarta-feira, 29 de abril de 2009

ANACRUSA

Acaba de ser editada pela COSMORAMA a 2º edição (1º edição das edições etc, 1983 ) de "ANACRUSA 68 sonhos", de Ana Hatherly. Deste excelente livro, os dois poemas abaixo:

26/11/60
O terror materializa-se sob a forma de uma pequena luz lilás que se dirige a grande velocidade para a minha janela aberta. Estendo as mãos e colho-a no seu caminho. Afinal era uma pequena e estranha ave violeta e azul marinho. Entretanto queima-me a perna direita. É um sofrimento intenso. Para me aliviar alguém dá-me um golpe e logo imenso sangue começa a jorrar.
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Janeiro de 1963
Um número incontável de mulheres de todas as idades seguindo em fila indiana, entre as quais me encontro. Somos todas prisioneiras e somos conduzidas involuntariamente através de corredores e escadas, deslizando por elas abaixo como que dormindo. Todas sabemos que somos prisioneiras mas estamos mais ou menos serenas. Eu penso: agora sou prisioneira mas um tempo virá em que serei liberta, eu e todas elas. Entretanto estendo a mão para trás procurando trazer a minha filha para junto de mim, para acelerar a sua libertação.
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.......................................Carlos Mendes - A festa da vida

1 comentário:

Marta disse...

Que bom saber!
Gosto muito do que Ana Hatherly, escreve.
bjo