domingo, 12 de abril de 2009

Parte do Arco-Íris

Roxana Crisólogo (Peru), eu e o Zé Luis (Casino da Figueira da Foz).
O livro Lisbon Blues, do meu amigo e poeta cabo-verdiano José Luís Tavares, é um dos candidatos ao "VII Prémio Portugal Telecom", destinado a livros em Língua Portuguesa publicados no Brasil em 2008. Este livro de José Luís Tavares, lançado na 8ª Bienal Internacional do Ceará, integra a colecção Ponte Velha (criada pelos poetas Carlos Nejar - Brasil e António Osório - Portugal) incluida na editora brasileira Escrituras. Em Maio, o livro deverá ser apresentado na Cidade da Praia. Refira-se que já em 2008, o Ministério da Educação Brasileiro atribuiu a José Luís Tavares o prémio "Literatura para Todos" pelo inédito "Os Secretos Acrobatas". É sem dúvida o merecido reconhecimento de um excelente poeta da língua portuguesa, um dos poetas aliás, que já hoje começa a ter uma das mais relevantes obras do panorama literário cabo-verdiano. De Lisbon Blues o seguinte poema:
.
3.
Quem te disse adeus quando a manhã
se incendiou para o lado das searas?
Mar ao fundo, pobre horizonte de turista,
agora que a borrasca interdita
o polimento da alma nas escadarias do passado

— fica o hálito, um rumor de véspera,
que não chega para acender no coração
o clarão da culpa, pois onde o látego
é consorte e o desterrado sonha
uma pátria improvável, não chegam
dos deuses o juízo e o preceito.

Quem pode, caminha até ao largo
onde o mundo arde em penas virtuais.
Mas tu não precisas de razões
para saber que nenhum cromado
polimento ilude a tua salitrada vocação
para a queda, desígnio que ombreia
com o tremendo rasgão do vento
desacoitando os óxidos embutidos à nascença.

Mesmo se tudo é cinza e passagem,
a ti, negro lázaro, que para uma segunda
morte hás-de nascer, oferto estes frutos
do fraco engenho, mudável reflexo
da vã alegria, fogo que ardesse
do princípio ao fim do mundo.
.............................José Luís Tavares
In, Lisbon Blues, S. Paulo, 2008

6 comentários:

Marta disse...

Não conhecia este caminho. E gostei de conhecer! Obrigada.

Cesária. Sim. Sempre.

João Rasteiro disse...

É que não há só "Vida em Mart(e)a".
Ficarei muito contente se Mart(e)a voltar aqui à terra, ao Centro do Arco.
Bjs.
João

bonecadetrapos disse...

Vou seguir o link. Gostei particularmente do que li.

Saudações, João, e parabéns pela atitude constante de divulgação no seu espaço dos demais.

Bonito de se ver.

*__bonecadetrapos___*

João Rasteiro disse...

Ó boneca de trapos, daqueles que aqueçem o coração, é na verdade uma boa decisão seguir o rastro da poesia do Meu amigo José Luís tavares, verás que não te arrependes.
Quanto aos parabéns, eles são agradecidos, mas, não só refiro os meus amigos, mas essencialmente aqueles que merecem e que eu admiro. Já agora, "mea culpa" por não passar mais vezes pelo recanto da "boneca de trapos", porque há por lá muito brilho e o calor reconfortante da sílaba.
Beijinhos,
João

Gabriela Rocha Martins disse...

merecidíssimo reconhecimento
a um excelente poeta da língua mátrea

obrigada pela partilha



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um beijo

Anónimo disse...

a manhã incendiada é uma imagem sublime. já tinha lido este poema ontem no reader, onde acompanho o centro do arco, e gostei muito :) obrigada, joão. um beijinho.