sábado, 1 de março de 2008

"no inclinar da clepsydra"

Faz hoje exactamente 82 anos que faleceu Camilo de Almeida Pessanha, poeta nascido em Coimbra no ano de 1867. O mais singular e original poeta simbolista português, aliás, o "único verdadeiro simbolista da literatura portuguesa e, em absoluto, um dos maiores intérpretes do Simbolismo europeu", nas palavras de Barbara Spaggiariapenas, viu publicado em vida o livro Clepsydra (1920), que reuniu o essencial da sua produção poética. Colaborador fugaz de vários jornais e revistas, viveu os últimos anos da sua vida afastado do convívio dos seus principais companheiros de letras, em Macau, repetindo os seus melhores versos "de memória", como gostava de sublinhar. Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro contaram-no entre os seus mestres, estabelecendo-se, através da sua obra, a ponte que em Portugal ligou simbolismo e modernismo.
Refira-se a carta que Fernando Pessoa lhe escreveu por volta de 1916, solicitando-lhe publicação de poemas: "Se estivessem inteiramente escondidos da publicidade, [...] seria, da parte de V. Exª., lamentável mas explicável. O que se dá, porém não se explica; visto que, sendo de todos mais ou menos conhecidos [...], eles não se encontram acessíveis a um público maior e mais permanente na forma normal da letra redonda. [...] sei-os de cor, aqueles cujas cópias tenho, e eles são para mim fonte contínua de exaltação estética. [...] é porque muito admiro esses poemas, e porque muito lamento o seu actual carácter de inéditos (quando, aliás, correm, estropiados, de boca em boca nos cafés), que ouso endereçar a V. Exª. esta carta, com o pedido que contém." O pedido era para que alguns poemas pudessem ser publicados na edição de Orpheu 3.
Apesar da pequena dimensão da sua obra, Camilo Pessanha é hoje considerado um dos poetas mais importantes da língua portuguesa.
A Morte, no Pego-Dragão
De onde vem este perfume de flores, embalsa-
mando a noite puríssima?
Entre bouças e fragas, uma cabana de ola, perto
da qual um arroio murmura...
Como de costume, o eremita parte ao surgir
a lua.
Em um covão do monte, um pássaro, poisado
ininterruptamente gorjeia.
.
Não lhe importa que as ervas, impregnadas do
orvalho, lhe encharquem as alpercatas de junça.
As suas vestes de ligeiro cânhamo, soergue-as,
enviezando, a brisa primaveril...
À borda da torrente, intento fazer versos ao
viço das orquídeas.
Embargam-mo as saudades, violentas empolgan-
do-me, do Kiang-pei e do Kiang-nan.
Camilo Pessanha

7 comentários:

Anónimo disse...

LANÇAMENTO, em 03 de Abril de 2008, 18h00 - Casa Municipal da Cultura, Coimbra. A apresentação da obra (Prefácio-Poema do poeta Casimiro de Brito) estará a cargo do Dr. António Pedro Pita, Delegado Regional da Cultura do Centro.
Olhe lá , o Pita não tem doutoramento? "A experi~encia estética como experi~encia do mundo.a estética segundo Mikel Dufrenne" dis-lhe alguma coisa? Decerto que não. Pois. Então de onde é que vem esse Dr.? É para nivelar pelos pés? Decerto que não. Ainda por cima vindo de uma pessao tão atenta aos títulos e glorietas de circunstâncai advindas da maldic~encia, da intriga e da perfídía (mázinha)

Anónimo disse...

dis, diz

Anónimo disse...

O

Anónimo disse...

ortografia mental quid?

Anónimo disse...

"Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo (...)
quem é quem sr. rasteiro? e o poema '

Anónimo disse...

"(...)e sempre.
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos".
OOOOOOO
"como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul".
FINITO!!!!!!!!!!!!!!!!!!! - "Finita causa, cessat effectus"

Anónimo disse...

Bingo, tem prémio: um dicionário de citações latinas. Sabe latim?Quem diria o anti clássico...VALE MAIS TARDE