sábado, 3 de janeiro de 2009

S.O.S. Barbárie



O território dos anjos

esta é a nascente o horto

dos anjos

a luz interrompida do espigão

velhas falas do jardim do éden

Hebrom entrançado

talhado em línguas de delírio torrente espraiada

o milagre em ti sedento ser rupestre

das acácias tenras no golpe

coroas vermelho-cereja geografias

um jardim flor as entranhas do casulo

florindo o desastre

a reincidência das cobras

a terra do júbilo o sémen demoníaco

sob as luas da velha cidade esférula

tanta chuva vermelha

manhãs ausentes de vozes concêntricas

OOO

o dia os dias das preces

sílabas dos lábios do Mediterrâneo raiado

o metal despojado dobrado fundente

brilho do mar o sal nas veias abertas

os antigos corpos fendas à saída de Khan Yunis

vulcões de roseiras bravas

animais cegos

vagueando em círculos a verdade

na convulsão dos anjos

a extracção do ferrão

OOO

toda a cegueira

os olhos de pedra numa cidade de chumbo feroz

na hora das silhuetas o metal irrompemdo fresco

o coração dos sábios

o sísmico fascínio

do crime indistinto

procurando o equilíbrio sagrado da estocada

no monte das tentações

corpos anjos demónios a respiração

o hálito carnívoro das raízes do mel

um rasgão de asas na súplica do verbo.

João Rasteiro - In, O Búzio de Istambul, 2008

.........................A cada não que dizes - Pedro Abrunhosa


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http://casadeosso.blogspot.com/2009/01/mais-do-mesmo.html
http://caderno.josesaramago.org/2008/12/31/israel/

3 comentários:

Helena Figueiredo disse...

"tanta chuva vermelha "...
Que bom seria se a chuva fosse de luz em cada instante...
Bom Ano para si...

Luís Costa disse...

“ um rasgão de asas na súplica do verbo “

ou a essência da luz.

O poeta sabe isso.

L.C.

Gabriela Rocha Martins disse...

quando Te reencontro
poeta

remeto.me

ao BREVE silêncio do verbo



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um beijo